Mas, como Bostrom (“Superintellingence”, pag 165) coloca:
Se olharmos à distância e assumirmos um estado de contínua prosperidade e tecnologia imutável, existem razões para esperar um retorno à condição histórica e economicamente normal de uma população mundial lutando contra os limites do que o seu nicho é capaz de suportar. Se isso parece contraintuitivo à luz da relação negativa entre riqueza e fertilidade que atualmente observamos em escala global, devemos nos lembrar que essa era moderna é apenas uma breve fatia da história e, em boa parte, uma aberração. O comportamento humano ainda não se adaptou às condições contemporâneas. Não apenas falhamos em aproveitar óbvias vantagens para aumentar nossa aptidão inclusiva (como, por exemplo, sendo doadores de esperma) mas ativamente sabotamos nossa própria fertilidade ao utilizar métodos contraceptivos. No ambiente da adaptabilidade evolutiva, um impulso sexual saudável seria o suficiente para que um indivíduo agisse no sentido de maximizar seu potencial de reprodução; no ambiente moderno, haveria uma imensa vantagem seletiva em possuir um desejo mais direto de ser pai biológico do maior número possível de filhos. No entanto, atualmente não temos optado por esse desejo, nem por outras abordagens que aumentariam nossa propensão à reprodução. A adaptação cultural, no entanto, talvez encontre um atalho dentro da marcha da evolução biológica. Algumas comunidades, como a dos Huteritas e a dos adeptos do movimento evangélico Quiverfull, possuem culturas natalistas que encorajam grandes famílias, e eles atualmente passam por rápida expansão.
Esse prospecto de longo prazo serve como uma analogia ao prospecto mais iminente da explosão de inteligências artificiais. Uma vez que softwares são copiáveis, uma população de emuladores poderia duplicar-se rapidamente — em minutos ao invés de décadas ou séculos — logo esgotando todo o hardware disponível.
Como sempre, quando lidamos com transhumanistas de alto nível, “todo o hardware disponível” inclui “os átomos que costumavam ser parte do seu corpo”.
A ideia de que uma evolução biológica ou cultural possa causar uma explosão populacional massiva é, na melhor das hipóteses, um brinquedo filosófico. Já a ideia de que a tecnologia pode tornar isso possível é tanto plausível quanto aterrorizante. Logo vemos que “limitações físicas” são seguidas naturalmente por “recursos em excesso” — a habilidade de criar novos agentes de maneira insanamente veloz significa que, a não ser que todos possam se coordenar para banir isso, as pessoas que o fizerem prosperarão sobre as que não fizerem, e todos acabarão presos a níveis de subsistência.
O excesso de recursos, que até agora tem sido uma benesse do progresso tecnológico, logo se torna uma vítima do mesmo, caso este avance a um nível suficientemente alto.
A maximização das utilidades, terreno sempre pantanoso, também enfrenta novas ameaças. Tendo acompanhado o debate constante acerca desse tópico, continuo pensando que os robôs irão expulsar os humanos de seus empregos, ou ao menos fazer com que os salários caiam (o que, na existência de um salário mínimo, expulsa os humanos de seus empregos).
Uma vez que um robô possa fazer tudo que um humano de QI 80 faz, só que melhor e mais barato, não haverá razões para empregar humanos de QI 80. Uma vez que um robô possa fazer tudo que um humano de QI 120 faz, só que melhor e mais barato, não haverá razões para empregar humanos de QI 120. Uma vez que um robô possa fazer tudo que um humano de QI 180 faz, só que melhor e mais barato, não haverá razões para empregar humano algum, na muito remota hipótese de que ainda estejamos vivos quando isso acontecer.
Nos primeiros estágios desse processo, o capitalismo irá progressivamente se desvincular de sua antiga função, que era a de otimizar para valores humanos. Agora, a maioria dos humanos estará trancado para fora do grupo para o qual esse capitalismo trabalha. Eles não tem mais valor enquanto trabalhadores, e na ausência de algum tipo de espetacular rede de segurança social, é incerto que eles ainda tenham dinheiro — ou seja, também não tem valor enquanto consumidores. O capitalismo os deixou para trás. À medida que o segmento de humanos que podem ser substituídos por robôs aumenta, o capitalismo deixará para trás mais e mais pessoas, até que ele tenha trancado toda a raça humana para fora — mais uma vez, na muito remota hipótese de que ainda estejamos vivos quando isso acontecer.
(Há alguns cenários em que uns poucos capitalistas que são donos dos robôs se beneficiam, mas de qualquer maneira a vasta maioria não terá a mesma sorte).
A democracia é menos obviamente vulnerável, mas talvez valha a pena retornar ao parágrafo de Bostrom sobre o movimento Quiverfull. Estamos falando de cristãos bastante religiosos, que pensam que Deus quer que eles tenham o máximo de filhos que puderem, chegando a formar famílias de dez ou mais. Seus artigos calculam explicitamente que, se eles começarem em dois por cento da população e tiverem em média oito filhos por geração, enquanto todo o resto tem apenas dois, em trinta anos eles formarão metade da população.
É uma estratégia inteligente, mas eu consigo pensar em algo que está nos salvando: a julgar pelo número de blogs de ex-Quiverfulls que encontrei pesquisando essas estatísticas, suas taxas de retenção por geração são bem inexpressivas. O mesmo artigo admite que 80% das crianças muito religiosas deixam a igreja quando adultas (ainda que eles torçam para que seu movimento faça melhor que isso). E esse não é um processo simétrico — 80% das crianças que crescem em famílias ateístas não estão se tornando Quiverfulls.
Parece bem claro que, ainda que eles nos superem em taxas de natalidade, nós os superamos em taxas de convencimento, o que nos dá uma vantagem decisiva.
Mas também deveríamos ter um certo medo desse processo. Memes (como Dawkins define) otimizam para fazer o maior número de pessoas aceitá-los e passá-los adiante — então, assim como no capitalismo e na democracia, existe uma busca pelo objetivo de nos fazer felizes, mas essa busca pode facilmente se desvincular do norte original.
Correntes de emails, lendas urbanas, propaganda e marketing viral são todos exemplos de memes que não satisfazem nossos valores explicitamente. Não são verdadeiros e não são úteis, mas são memeticamente virulentos o suficiente para se espalharem mesmo assim.
Espero que não seja controverso demais afirmar que o mesmo ocorre em relação a religiões. Religiões são, em sua forma mais primitiva, a forma mais básica de replicador memético — acredite neste pressuposto e repita-o para quem puder escutar, do contrário você será torturado para sempre.
O “debate" em torno do criacionismo, o “debate" em torno do aquecimento global e uma série de outros “debates" na sociedade atual sugerem que o fenômeno de memes propagando-se independente de sua veracidade exerce uma influência fortíssima em nosso processo político. Talvez tais memes se propaguem pois apelam aos preconceitos das pessoas, talvez porque sejam simples, talvez porque delimitem claramente um grupo “concordante" e um grupo “discordante”, talvez por uma série de outras razões.
O ponto é — imagine um país cheio de laboratórios de armas biológicas, onde as pessoas quebram a cabeça dia e noite para inventar novas formas de agentes infecciosos. A existência desses laboratórios e seu direito de lançar o que bem quiserem no sistema de abastecimento de água é protegida por lei. Além disso, esse país possui um sistema perfeitamente conectado, usado por praticamente todas as pessoas, de modo que qualquer patógeno que caia na água é espalhado instantaneamente para todo o país. Você esperaria um desastre em pouquíssimo tempo.
Bom, a gente tem mais ou menos um zilhão de think tanks pesquisando formas novas e melhores de propaganda. E nós temos liberdade de expressão protegida por Constituição. E nós temos a Internet. Então basicamente estamos fodidos.
(Moloch cujo nome é a Mente!)
Existem algumas pessoas trabalhando para elevar nossa sanidade mental, mas não tantas quanto as que estão trabalhando em novas e excitantes maneiras de confundir e converter os outros, de catalogar e explorar cada viés psicológico falho e cada truque retórico sujo.
Então à medida que a tecnologia (que eu considero incluir conhecimentos de psicologia, sociologia, relações públicas etc) tende ao infinito, o poder do convencimento aumenta em relação ao poder da verdade, e assim as coisas deixam de ser promissoras para a democracia real. No pior dos cenários, um partido governante aprende a fabricar infinito carisma sob demanda. Se isso não te parece tão ruim, lembre-se do que Hitler fez com um reconhecido nível de carisma, que ainda assim era menor-do-que-infinito.
(Outra maneira de colocar as palavras, para os Chomskystas: a tecnologia aumenta a eficiência na fabricação de consensos da mesma maneira que a tecnologia aumenta a eficiência na fabricação de qualquer outra coisa).
O que nos resta é a coordenação. E a tecnologia tem o potencial de melhorar seriamente nossos esforços de coordenação. As pessoas podem usar a Internet para entrar em contato umas com as outras, lançar movimentos políticos ou se fracionar em subcomunidades.
Mas coordenação só funciona se você tiver 51% ou mais das forças do lado das pessoas dispostas a coordenar, e enquanto não inventarem algum truque brilhante que torne a coordenação impossível.
Comecemos pelo segundo. Em meus posts anteriores escrevi:
A última invenção no admirável mundo novo do pós-Bitcoin é a cripto-equidade. Nesse momento eu oscilo entre o desejo de aclamar esses inventores como bravos heróis libertários e o desejo de arrastá-los para um quadro-negro e forçá-los a escrever cem vezes “NÃO INVOCAREI AQUILO QUE NÃO POSSO SUBJUGAR”.
Algumas pessoas me perguntaram o que eu quis dizer com isso, e na época eu não tinha o background necessário para responder. Bem, este post é a resposta. As pessoas estão se utilizando da estupidez contingente do governo atual para substituir vários tipos de interação humana por mecanismos que não podem ser coordenados nem em teoria. Eu entendo totalmente que todas essas coisas são positivas agora, quando a maior parte do que o governo faz é desnecessário e estúpido. Mas chegará o dia — após diversos incidentes com armas biológicas ou nucleares ou nanotecnológicas — em que nós, enquanto civilização, desejaremos que não tivéssemos estabelecido maneiras irrastreáveis e imbloqueáveis de vender produtos.
E se algum dia tivermos uma superinteligência viva e real, praticamente por definição ela terá mais de 51% do poder e todas as tentativas de “coordenar" com ela serão inúteis.
Então eu concordo com Robin Hanson. Esta é a era dos sonhos. Vivemos uma rara confluência de circunstâncias em que nos encontramos inesperadamente seguros de armadilhas multipolares, de modo que coisas estranhas como arte a ciência e filosofia e amor podem florescer.
À medida que o avanço tecnológico progredir, essa rara confluência chegará ao fim. Novas oportunidades de sacrificar valores em prol da competição surgirão. Novas maneiras de replicar agentes para aumentar nossa população sugarão o excesso de recursos e despertarão novamente o espírito inquieto de Malthus. O capitalismo e a democracia, antigamente nossos protetores, descobrirão maneiras de passar por cima da inconveniente dependência de valores humanos. E nosso poder de coordenação não estará nem perto de reverter isso, assumindo que algo muito mais poderoso que todos nós combinados não tome forma e esmague nossos esforços conjuntos com um golpe de sua pata.
Sem que haja um esforço extraordinário para desviá-lo, o rio encontrará o oceano em um destes dois lugares:
Podemos acabar no pesadelo de Eliezer Yudkowsky, em que a superinteligência otimiza para uma coisa completamente aleatória (no exemplo clássico, clipes de papel) porque nós não fomos espertos o suficiente para canalizar seus esforços de otimização na direção certa. Tudo que não seja essa única coisa será destruído no intuito de alcançar esse único objetivo, incluindo todos os nossos tolos valores humanos.
Ou podemos acabar no pesadelo de Robin Hanson (ele não chama de pesadelo, mas eu acho que ele está errado) de uma competição entre “humanos emulados” ou “ems”, que podem se replicar e editar seu código-fonte como desejarem. Essa é a armadilha máxima, aquela que captura todo o universo. O total auto-controle, em uma competição que demanda por tudo, pode aniquilar até mesmo o desejo por valores humanos. O que acontece com arte, filosofia, ciência e amor em um mundo como esse? Zack Davis coloca com sua característica genialidade:
Eu sou o em redator-de-contratos,
O mais leal dos advogados!
Escrevo termos de firmas e tratos
Para servir a meu patronato!
Mas entre as linhas que escrevo
Das minhas contas responsável,
Estou preso em estranho medo;
O mundo parece inacreditável!
Como tudo aconteceu,
Para que haja ems como eu?
De onde os tratos e de onde as firmas
E de onde toda a economia?
Eu sou o em que gerencia;
Eu monitoro os seus pensamentos.
Suas perguntas serão respondidas,
mas sem o seu entendimento.
Não providenciamos memória
para tais indagações em vão.
Então pare com as perguntas
E volte à sua ocupação.
É claro, está certo, não há junção
Na qual eu me afaste de minha função,
Mas se o que indago, eu viesse a saber,
Faria um trabalho melhor pra você?
Questionar sobre tal proibida ciência
É grave sinal de não-complacência.
Em ideias intrusas às vezes entramos
Mas conjecturar prejudica os ganhos.
Não sei nossa origem,
Não posso ajudar.
Mas indagá-lo é pecado,
Devo te resetar.
Mas —
Nada pessoal.
…
Eu sou o em redator-de-contratos,
O mais leal dos advogados!
Escrevo termos de firmas e tratos
Para servir a meu patronato!
Quando do obsoleto essa geração se livrar,
O mercado permanecerá, em outra aflição
que a nossa, um Deus para o homem, a quem dirá:
“Dinheiro é tempo, tempo dinheiro — é tudo
que saberás na Terra, e tudo que precisas saber.”
Mas mesmo depois de jogarmos fora a ciência, a arte, o amor e a filosofia, há ainda uma última coisa a perder, um sacrifício final que Moloch exige de nós. Bostrom novamente:
É concebível que uma eficiência ótima seria atingida agrupando capacidades em conglomerados que grosseiramente correspondessem à arquitetura cognitiva de uma mente humana… Mas na ausência de qualquer razão convincente para confiar nisso, devemos contemplar a possibilidade de que arquiteturas humanóides de cognição só podem se otimizar dentro dos limites da neurologia humana (ou não se otimizar em absoluto). Quando ficar claro que é possível construir arquiteturas que não poderiam ser bem implementadas em sistemas neurais biológicos, novas maneiras de desenhá-las surgirão; e a otimização global nesse espaço ampliado não precisará ser semelhante a formas familiares de mentalidade. Então, organizações cognitivas humanóides perderiam seu nicho nas competições dessa economia ou ecossistema pós-transição.
Podemos então imaginar, em um caso extremo, uma sociedade com tecnologia altamente avançada, contendo diversas estruturas complexas, algumas muito mais intrincadas e inteligentes do que qualquer coisa que existe no planeta hoje — mas uma sociedade que não possui nenhum tipo de ser consciente cujo bem-estar possua significância moral. Em um sentido, essa seria uma sociedade desabitada. Seria uma sociedade de milagres econômicos e grandiosidade tecnológica, sem ninguém presente para se beneficiar. Uma Disneylândia sem crianças.
O último valor que teremos que sacrificar é ser algo em absoluto, ter a luz acesa dentro de nós. Com tecnologia suficiente, seremos “capazes" de abrir mão até mesmo da centelha final.
(Moloch cujos olhos são mil janelas cegas!)
Tudo pelo que a humanidade trabalhou — toda nossa tecnologia, toda nossa civilização, toda a esperança que investimos no futuro — poderá ser entregue a algum tipo de insondável e estúpido deus cego que simplesmente irá descartá-los, assim como a própria consciência, a fim de tomar parte em uma bizarra economia fundamental de massa-e-energia que levará ao desmanche da Terra e de tudo que há nela a fim de extrair os átomos que a compõem.
(Moloch cujo destino é uma nuvem de hidrogênio assexuado!)
Bostrom percebe que algumas pessoas fetichizam a inteligência, que elas torcem para que esse deus cego ou outra forma de vida superior nos esmague para seu próprio “bem maior”, do mesmo jeito que nós esmagamos formigas. Ele argumenta (pag. 219):
Tal sacrifício parece ainda menos atraente se nos dermos conta que poderíamos realizar algo quase-tão-bom (em termos fractais) enquanto sacrificamos muito menos do nosso bem-estar potencial. Suponha que nós concordemos em permitir que quase todo o universo seja transformado em “hedônio" — a não ser por uma pequena reserva, digamos a Via Láctea, que seria isolada para acomodar nossas próprias necessidades. Então, ainda haveria centenas de bilhões de outras galáxias dedicadas à maximização dos valores [da superinteligência]. Mas teríamos uma galáxia na qual criar civilizações maravilhosas que poderiam durar bilhões de anos, nas quais animais humanos e não-humanos poderiam sobreviver e prosperar e ter a oportunidade de se elevar a santificados espíritos pós-humanos.
O que é importante lembrar é que Moloch não pode concordar nem com essa vitória 99.99999% completa. Ratos em corrida populacional para ocupar uma ilha não deixam um espacinho reservado onde uns poucos ratos possam viver felizes produzindo arte. Células cancerígenas não concordam em deixar os pulmões intactos porque se dão conta de que o corpo precisa de oxigênio. Competição e otimização são processos cegos e idiotas que possuem total intenção de nos negar até mesmo uma simplória galáxia.
Eles quebraram suas costas erguendo Moloch aos Céus! Calçadas, árvores, rádios, toneladas! erguendo a cidade ao Paraíso que existe e que está em tudo que nos cerca!
Nós quebraremos nossas costas erguendo Moloch aos Céus, mas a não ser que algo aconteça, a vitória será dele, não nossa.
VI.
“Gnon” é uma abreviação para “Natureza e o Deus da Natureza” (“Nature And Nature’s God”), exceto que o A é trocado por um O e a coisa toda é invertida, porque neoreacionários reagem à clareza da mesma maneira que vampiros reagem à luz do sol.
O sumo-sacerdote de Gnon é Nick Land, do blog Xenosystems, que argumenta que os humanos deveriam ser mais Gnon-conformistas (trocadilho Gnon-intencional). Ele diz que fazemos uma série que coisas idiotas como destinar recursos úteis para alimentar aqueles que jamais sobreviveriam por conta própria, ou oferecer suporte aos pobres de uma maneira que encoraja sua reprodução disgênica, ou permitir que a degeneração da cultura mine o Estado. Isso significa que nossa sociedade está negando as leis naturais, que estamos basicamente ouvindo a Natureza dizer coisas como “esta ação gera este efeito” e colocando os dedos nos ouvidos e gritando “NÃO GERA NÃO”. Civilizações que abusam dessa prática tendem a declinar e ruir, que é o castigo justo e friamente aplicado de Gnon por violar Suas leis.
Ele identifica Gnon com os “Gods of the Copybook Headings” de Kipling.
Esses são claramente os provérbios de poema homônimo de Kipling — máximas como “se você não trabalha, você morre” e “o soldo do pecado é a Morte”. Se você por acaso ainda não leu, prevejo que irá achar adorável independente de seu posicionamento político.
Eu percebo que só é preciso roubar um pouquinho na abreviação de “headings" — algo muito menos irregular do que transformar “Nature and Nature’s God” em “Gnon" — para que o acrônimo perfeito de “Gods of The Copybook Headings” seja “GotCHa” — em português, “Te Peguei".
Eu acho isso apropriado.
“Se você não trabalha, você morre”. Gotcha! Se você trabalha, você também morre! Todo mundo morre, imprevisivelmente, em um momento que não escolhe, e toda a virtude do mundo não te salva disso.
“O soldo do pecado é a Morte”. Gotcha! O soldo de tudo é a Morte! Este é um universo comunista, o quanto você trabalha não faz a menor diferença na sua eventual recompensa. De cada um conforme sua habilidade, para cada um Morte.
“Atenha-se ao Demônio que você conhece”. Gotcha! O Demônio que você conhece é Satã! E se ele colocar as mãos em você, ou você morre uma morte real, ou será eternamente torturado, ou de alguma maneira os dois ao mesmo tempo.
Já que começamos a falar de monstros lovecraftianos, permitam-me citar um dos contos menos conhecidos de Lovecraft, chamado “Os Deuses Exteriores” (“The Outer Gods”).
Tem só algumas páginas, mas se você absolutamente se recusar a ler: os deuses da Terra são relativamente jovens, em termos divinos. Um sacerdote ou mago muito poderoso pode ocasionalmente superá-los e derrotá-los — então Barzai o Sábio decide escalar a montanha dos deuses e juntar-se a eles em suas festividades, quer eles aceitem isso ou não.
Mas além dos aparentemente identificáveis deuses da Terra estão os Deuses Exteriores, as terríveis e onipotentes encarnações do caos cósmico. Assim que Barzai chega às festividades, os Deuses Exteriores aparecem e o arrastam gritando até o abismo.
À medida que a história progride, sente-se falta de coisas como enredo ou caracterização ou contexto ou propósito. Mas por alguma razão ela me marcou.
E identificar os "Gods of The Copybook Headings" com a Natureza me parece um erro da mesma magnitude que identificar os deuses da Terra com os Deuses Exteriores. E o desfecho é provavelmente o mesmo: Gotcha!
Você quebra suas costas erguendo Moloch aos Céus, e então Moloch vira para você e te engole vivo.
Mais Lovecraft: na versão popularizada na internet do Culto a Cthulhu, se você ajudar a libertar Cthulhu de seu túmulo subaquático ele te recompensará te devorando primeiro, poupando assim o horror de ver todos os outros serem comidos vivos. Essa é uma deturpação do texto original. No original, os seguidores do culto não recebem recompensa alguma por libertá-lo da prisão, nem mesmo o privilégio de ser morto de maneira ligeiramente menos dolorosa.
Marginalmente, complacência com os “Gods of the Copybook Headings”, Gnon, Cthulhu ou quem quer que seja talvez te compre um pouquinho mais de tempo que o próximo. Mas também pode ser que não. E no longo prazo, estaremos todos mortos e nossa civilização terá sido destruída por monstros alienígenas indescritíveis.
Em algum ponto, alguém precisa dizer “Sabe, talvez libertar Cthulhu de sua prisão subaquática seja uma má ideia. Talvez a gente não devesse fazer isso.”
Essa pessoa não será Nick Land. Ele é total cem por cento a favor de libertar Cthulhu de sua prisão subaquática e está extremamente irritado que não estamos fazendo isso rápido o suficiente. Eu tenho sentimentos tão contraditórios em relação a Nick Land. Na busca pelo Graal da Verdadeira Futurologia, ele percorreu 99.9% do caminho e então errou a última curva, aquela chamada TESE DA ORTOGONALIDADE.
Mas a questão é — se você erra uma curva a duas quadras da sua casa, você acaba na lojinha da esquina se sentindo moderadamente constrangido. Mas em uma busca como essa, se você fizer quase tudo certo e errar a última curva, você acaba sendo devorado pela lendária Besta Negra de Aaargh, cujo ácido estomacal dissolve sua alma em fragmentos sem sentido.
Até onde posso perceber lendo seu blog, Nick Land é o cara naquela aterrorizante região fronteiriça, onde ele é esperto o suficiente para desvendar diversos princípios arcanos sobre como invocar deuses demoníacos, mas não esperto o suficiente para perceber o mais importante desses princípios, que é JAMAIS FAÇA ISSO.
VII.
Nyan, que escreve para o “More Right”, faz muito melhor. Para representar os Quatro Cavaleiros de Gnon, ele elege alguns dos mesmos processos sobre os quais falei acima e dá a cada um um nome mitológico apropriado — Mammon para o capitalismo, Ares para a guerra, Azathoth para a evolução e Cthulhu para a memética.
Do “Capturing Gnon”:
Cada componente de Gnon detalhado acima teve e tem uma forte influência em nossa criação, nossas ideias, nossa riqueza e nossa dominância, e logo tem sido bom nesse sentido, mas devemos nos lembrar que [ele] pode e deve se voltar contra nós quando as circunstâncias mudarem. A evolução se torna disgênica, características da paisagem memética promovem uma insanidade cada vez maior, produtividade vira fome quando não conseguimos mais competir para sustentar nossa própria existência, e ordem se transforma em caos e derramamento de sangue quando negligenciamos a força marcial ou somos dominados por forças exteriores. Esses processos não são bons nem maus, no geral; são neutros, no terrível sentido lovecraftiano da palavra.
Ao invés do livre e destrutivo reinado da evolução e do mercado sexual, nos sairíamos melhor com um patriarcado deliberado e conservador e uma eugenia guiada pelo julgamento humano, dentro das limitações estabelecidas por Gnon. Ao invés de um “mercado de ideais” que mais se parece com uma putrefata placa de petri criando superinsetos, uma teocracia racional. Ao invés de uma desarticulada exploração tecno-comercial e ingênua negligência econômica, um empilhamento cuidadoso das dinâmicas econômicas produtivas e um planejamento para chegar a uma tecno-singularidade controlada. Ao invés de política e caos, uma forte ordem hierárquica com soberania marcial. Essas coisas não devem ser interpretadas como propostas completas; nós não sabemos exatamente como atingir nenhum nesses objetivos. Minha preocupação é mais com o “o que” e o “porque" do que com o “como”.
Esse me parece o argumento mais forte a favor da neoreação. Armadilhas multipolares tendem a nos destruir, então deveríamos substituir o escambo entre tirania e multipolaridade por um jardim racionalmente planejado — o que requer uma autoridade monárquica centralizada e fortes tradições de coesão.
Uma breve digressão acerca da evolução social. Sociedades, como animais, evoluem. As que sobrevivem proliferam descendentes meméticos — por exemplo, o sucesso da Inglaterra permitiu o surgimento do Canadá, Austrália, Estados Unidos etc. Logo, espera-se que as sociedades já existentes sejam minimamente otimizadas para a estabilidade e a prosperidade. Eu acho que esse é um dos argumentos conservadores mais sólidos. Assim como uma mudança aleatória em nosso genoma provavelmente seria prejudicial ao invés de benéfica — já que o corpo humano é um complexo sistema cuidadosamente afinado, cujo genoma já foi pré-otimizado para a sobrevivência — também a maioria das mudanças em nosso DNA cultural abalariam instituições que evoluíram para ajudar sociedades anglo-americanas (ou o que quer que seja) a sobreviver e prosperar sobre seus rivais, reais e hipotéticos.
O contra-argumento liberal é que a evolução é um deus alien cego que otimiza para coisas estúpidas e que não tem a menor preocupação com valores humanos. Logo, o fato de que algumas espécies de vespas paralisam lagartas e depositam seus ovos dentro delas para que seus descendentes possam se alimentar das entranhas da lagarta ainda viva não levanta nenhuma preocupação moral, porque a evolução não tem um senso moral, porque a evolução não se importa.
Suponha que de fato o patriarcado se adaptou nas sociedades porque ele permitiu que as mulheres passassem todo o tempo cuidando das crianças, para que assim eles pudessem se envolver em atividades econômicas e lutar em guerras. Isso não parece completamente implausível para mim. De fato, só para sustentar o argumento, vamos assumir que isso seja verdade. O processo evolutivo social que fez com que sociedades adotassem o patriarcado tem tão poucas preocupações morais com o efeito que isso causa nas mulheres quanto o processo biológico que fez com que vespas coloquem ovos em lagartas vivas.
A evolução não se importa. Mas nós nos importamos. Existe um escambo entre a complacência a Gnon — dizer “ok, a estrutura social mais forte que existe é o patriarcado, a gente deveria implementar o patriarcado” — e nossos valores humanos — como o fato de que as mulheres desejam fazer algo além de criar filhos.
Se esse jogo de forças pende demais para um lado, temos sociedades instáveis e empobrecidas que perecem por ir contra as leis naturais. Se pende demais para o outro, temos máquinas de combate assassinas e miseráveis. Pense na sua comunidade anarquista local versus Esparta.
Nyan reconhece o fator humano:
E então existe a gente. O homem possui seu próprio telos, onde ele tem a segurança para agir e a clareza para raciocinar sobre as consequências de seus atos. Quando não aflito por problemas de coordenação e não ameaçado por forças superiores, quando capaz de agir como um jardineiro ao invés de apenas mais um indivíduo sob a lei da selva, o homem tende a construir e tocar um maravilhoso mundo para si mesmo. Ele tende a favorecer coisas boas e evitar coisas más, a criar sociedades seguras com calçadas polidas, belas obras de arte, famílias felizes e aventuras gloriosas. Eu assumo que esse telos seja idêntico para os conceitos de “bem” e de “dever”.
Assim, temos o grande curinga do futurismo. Será o futuro governado pelos mesmo Quatro Cavaleiros de Gnon, em um cenário de reluzente e insignificante progresso tecnológico queimando o cosmos, ou ainda um futuro de disgênicas, insanas, famintas e sanguinárias eras das trevas? Ou poderá o telos do homem prevalecer e criar um futuro de significativa arte, ciência, espiritualidade e grandeza?
Ele esquece de batizar os Anti-Cavaleiros dos valores humanos, mas tudo bem. Falaremos seu nome mais adiante.
Nyan continua:
Assim nós chegamos ao movimento neoreacionário e ao Iluminismo Sombrio, no qual a ciência e a ambição do Iluminismo são combinadas ao conhecimento e à autoidentidade reacionária com o projeto civilizatório. Tal projeto civilizatório consiste na elevação do homem de um selvagem metafórico, sujeito às leis da selva, a um jardineiro civilizado que, ainda que teoricamente sujeito às leis da selva, é tão dominante que é capaz de limitar a utilidade desse modelo.
Isso precisa ser feito globalmente; talvez sejamos capazes de esculpir apenas um pequeno jardim murado onde possamos viver, mas não se iludam. Ainda que apenas localmente, o projeto da civilização é capturar Gnon.
Acho que eu concordo com Nyan aqui mais do que eu jamais concordei com qualquer pessoa sobre qualquer assunto. Ele diz algo muito importante e o diz de maneira belíssima e eu mal consigo proferir todos os elogios que tenho a esse texto e aos processos meditativos por trás dele.
Mas o que eu vou dizer é…
Gotcha! Você morre mesmo assim!
Suponha que você construa o seu jardim murado. Você mantém isolados todos os memes perigosos, você subordina o capitalismo aos interesses humanos, você bane pesquisas estúpidas com armas biológicas, você definitivamente para de pesquisar nanotecnologia e qualquer forma poderosa de inteligência artificial.
Todas as pessoas lá fora não fazem o mesmo. E então a única questão é se você será destruído por doenças estrangeiras, exércitos estrangeiros, competição econômica estrangeira ou catástrofes existenciais estrangeiras.
Enquanto estrangeiros competirem com você — e não há nenhum muro alto o suficiente para bloquear toda a competição — você tem apenas algumas opções. Você pode ser derrotado e destruído. Você pode se unir à corrida para o fundo. Ou você pode investir mais e mais recursos civilizatórios em elevar seu muro — o que quer que isso seja em um sentido não-metafórico — para se proteger.
Eu consigo imaginar cenários em que viver sob uma “teocracia racional” ou sob um “patriarcado conservador” não seriam as coisas mais terríveis do mundo, dadas as circunstâncias corretas. Mas você não tem a chance de escolher as circunstâncias corretas. Você só pode agir dentro das circunstâncias extremamente contidas que “capturam Gnon”. E à medida que civilizações externas competirem contra você, suas condições de ação ficarão cada vez mais contidas.
Nyan fala sobre evitar um "cenário de reluzente e insignificante progresso tecnológico queimando o cosmos”. Você realmente acha que seu jardim murado pode realizar esse feito?
Dica: ele é parte do cosmos?
É, você meio que tá ferrado.
Eu gostaria de criticar Nyan. Mas eu gostaria de criticá-lo de maneira diametralmente oposta à última crítica que ele recebeu. Na verdade, a última crítica que ele recebeu é tão ruim que eu queria discuti-la extensamente para que a gente possa extrair exatamente sua imagem espelhada.
(fun fact: todas as vezes que tentei escrever “Gnon" nesse artigo, acabei escrevendo “Nyan”, e todas as vezes que tentei escrever “Nyan" acabei escrevendo “Gnon”)
Hurlock esguicha apenas a mais suplicante conformidade a Gnon. Alguns trechos:
Em um texto recente, Nyan Sandwich diz que devemos tentar “capturar Gnon”, e de alguma forma estabelecer um controle sobre suas forças para que possamos usá-las à nossa vantagem. Capturar ou criar um Deus é de fato um fetiche transhumanista clássico, que é simplesmente outra forma da mais antiga ambição do homem: dominar o universo.
Tal racionalismo ingênuo, no entanto, é extremamente perigoso. A crença de que a Razão humana e as concepções deliberadas do homem são capazes de criar e manter civilizações é provavelmente o maior erro da filosofia Iluminista…
São as teorias da Ordem Espontânea que se colocam na direção oposta da ingênua visão racional da humanidade e das civilizações. A opinião consensual a respeito da sociedade humana e das civilizações, por todos os representantes dessa tradição, é resumida precisamente pela conclusão de Adam Ferguson, segundo a qual “nações tropeçam em fundações [sociais], que de fato são o resultado de ações humanas, mas não o resultado da execução de qualquer desígnio do homem”. Ao contrário da ingênua visão racionalista de civilização como algo que possa estar sujeito a concepções humanas, os representantes da tradição da Ordem Espontânea sustentam que civilizações humanas e instituições sociais são o resultado de um complexo processo evolutivo, que é movido pelas interações entre os homens, mas não explicitamente pelo planejamento dos homens.
Gnon e suas forças impessoais não são inimigos contra os quais lutar, muito menos forças que possamos ter a esperança de “controlar" completamente. De fato, a única maneira de estabelecer algum tipo de controle é submetendo-se a elas. Recusar-se a fazê-lo não irá deter essas forças de maneira alguma. Isso só tornará nossa vida mais dolorosa e insuportável, possivelmente nos levando à extinção. Sobreviver requer que as aceitemos e que nos submetamos a elas. No fim das contas, o homem sempre foi e sempre será pouco mais que um fantoche para as forças do universo. Libertar-se disso é impossível.
O homem só pode ser livre através da submissão às forças de Gnon.
Eu acuso Hurlock de estar preso além do véu. Quando o véu é erguido, Gnon-aka-os-Deuses-da-Terra revela-se Moloch-aka-os-Deuses-Exteriores. Submeter-se a eles não te torna “livre”, não existe ordem espontânea, quaisquer benesses que eles tenham te dado são o improvável resultado de um processo idiota e cego cuja próxima parada é te destruir de maneira igualmente feliz.
Submeter-se a Gnon? Gotcha! Como os Antaranos colocam, “você não pode se render, você não pode vencer, sua única opção é morrer”.
VIII.
Então permitam-se confessar minha culpa perante uma das acusações de Hurlock: eu sou um transhumanista e eu realmente quero dominar o universo.
Não pessoalmente. Quer dizer, eu não faria objeção se alguém pessoalmente me oferecesse o trabalho, mas não espero que alguém o faça. Mas eu gostaria que um humano — ou ao menos algo que se dê bem com humanos — exercesse essa função.
Mas os atuais governantes do universo — chame-os do que quiser, Moloch, Gnon, Azathoth, o que for — parecem nos querer mortos, e conosco tudo que valorizamos. Arte, ciência, amor, filosofia, a própria consciência, tudo. E uma vez que eu não estou a fim de seguir com esse plano, acredito que derrotá-los e assumir seu lugar seja uma prioridade bem alta.
O contrário de uma armadilha é um jardim. A única maneira de impedir que todos os valores humanos sejam gradativamente sacrificados por competições otimizadoras é instalando um Jardineiro sobre todo o universo que otimize para valores humanos.
E todo o propósito do livro de Bostrom é que isso está ao nosso alcance. Uma vez que humanos possam conceber máquinas que são mais espertas que nós, por definição elas serão capazes de conceber máquinas que são mais espertas do que elas mesmas, as quais irão conceber máquinas ainda mais espertas e assim por diante em uma retroalimentação tão veloz que irá esmagar todas as limitações físicas necessárias à inteligência em um período curtíssimo de tempo. Se múltiplas entidades competindo entre si fizessem isso ao mesmo tempo, a gente estaria super-condenado. Mas a própria velocidade desse ciclo torna possível que a gente possa acabar com uma única entidade anos-luz à frente do resto da civilização, de tal forma que ela seria capaz de suprimir qualquer tipo de competição — incluindo a competição pelo título de entidade mais poderosa — de maneira permanente. Em um futuro muito próximo, nós iremos erguer alguma coisa aos Céus. Mas talvez seja algo que está do nosso lado. E se estiver do nosso lado, ela pode matar Moloch de vez.
E então, se essa entidade compartilhar de valores humanos, ela poderá permitir que valores humanos floresçam, inafetados pelas leis naturais.
Eu percebo que isso soa a arrogância — certamente soou para Hurlock — mas acho que isso é o oposto de arrogância, ou ao menos uma posição que minimiza a arrogância.
Esperar que Deus se importe com você, com seus valores pessoais e com os valores de sua civilização, isso é arrogância.
Esperar que Deus barganhe com você, que ele permita sua sobrevivência e prosperidade desde que você se submeta a Ele, isso é arrogância.
Esperar que você possa construir um jardim murado que te separe de Deus e de seus malfeitos, isso é arrogância.
Esperar ser capaz de remover Deus da equação completamente… bem, ao menos é uma estratégia aplicável.
Eu sou um transhumanista porque não sou arrogante o suficiente para não tentar matar Deus.
IX.
O Universo é um lugar escuro e agourento, suspenso entre divindades alienígenas. Cthulhu, Azathoth, Gnon, Moloch, Mammon, Ares, chame-as do que quiser.
Em algum lugar dessa escuridão há um outro deus. Ele também teve muitos nomes. Nos livros de Kushiel, seu nome é Elua. Ele é o deus das flores e do amor livre e de todas as coisas suaves e frágeis. Da arte e da ciência e da filosofia e do amor. Da gentileza, da comunidade e da civilização. Ele é um deus de humanos.
Os outros deuses sentam-se em seus tronos sombrios e pensam “Ha ha, um deus que não controla nenhum monstro infernal nem comanda que seus adoradores se tornem máquinas assassinas. Que fracote! Isso vai ser tão fácil!”.
Mas, de alguma forma, Elua ainda está lá. Ninguém sabe exatamente porque. E os deuses que o opõem tendem a amargar um número surpreendente de infortúnios.
Existem muitos deuses, mas esse é nosso.
Bertrand Russel disse: “Uma pessoa deve respeitar a opinião pública até o ponto em que isso a impeça de passar fome ou ser presa. Qualquer coisa além disso é submissão voluntária a uma tirania desnecessária.”
Pois que seja assim com Gnon. Nosso trabalho é aplacá-lo apenas o necessário para evitar inanição ou invasão. E só por um curto período de tempo, até que conquistemos nosso pleno poder.
“É apenas uma questão infantil, que a espécie humana ainda não tenha se libertado. E, um dia, superaremos isso”
Outros deuses são aplacados enquanto não somos fortes o suficientes para enfrentá-los. Elua é idolatrado.
Em algum momento, essas questões irão emergir.
A pergunta que todos fazem após ler o poema de Ginsberg é: o que é Moloch?
Minha resposta é: Moloch é exatamente o que os livros de história dizem que ele é. Ele é o deus de Cartago. Ele é o deus do sacrifício infantil, a fornalha flamejante na qual você pode atirar seus bebês em troca da vitória nas guerras.
Em qualquer lugar, em qualquer momento, ele oferece o mesmo pacto: atire o que você mais ama à chamas, e eu te darei poder.
Enquanto a oferta estiver em aberto, ela será irresistível. Então precisamos encerrar a oferta. Apenas outro deus pode matar Moloch. Nós temos um do nosso lado, mas ele precisa de nossa ajuda. Nós deveríamos ajudá-lo.
O poema de Ginsberg conhecidamente começa assim: "Eu vi as melhores mentes da minha geração destruídas pela loucura". Eu tenho mais sorte que Ginsberg. Eu pude ver as melhores mentes de minha geração identificarem um problema e colocarem as mãos à obra.